A Lei e seus Outros: a negociação e produção do "bom" ("legal") e o "mau" ("ilegal") migrante entre os brasileiros em Londres

Resumo: O artigo explora o papel do Estado na negociação e na produção de diferenças em um “mundo em movimento” (world on the move). Considera, em particular, as consequências da divisão binária migrante “legal” e “ilegal” no modo como brasileiros estruturam suas vidas na cidade de Londres, nos níveis materiais e simbólicos. Apesar do discurso político sobre imigração frequentemente homogeneizar o “migrante” enquanto uma figura simbólica em oposição ao “cidadão”, as políticas de imigração também servem para dividir os imigrantes em diferentes tipos de atores em função das suas motivações de entrada no país (estudante, reunião familiar, refugiado, trabalhador temporário, imigrante altamente qualificado, etc.), ou ainda por status legal (“legal”/ “ilegal”). Essas categorias administrativas da imigração são frequentemente tomadas como naturais, neutras e meramente descritivas, refletindo a identidade da pessoa (o “ilegal”), em vez de refencializar e moldar tipos particulares de relação. Além disso, as categorias empregadas pelo Estado para seus próprios fins administrativos são voláteis e não correspondem à realidade das vidas das pessoas que se mudam. No entanto, essas categorias impactam em como as pessoas podem viver e planejar suas vidas, quais são seus direitos, como se imaginam e que formas de socialidades constroem em seu cotidiano. O artigo baseia-se em pesquisa empírica que combina uma etnografia de 18 meses em locais de lazer com 33 entrevistas em profundidade com brasileiros em Londres.

Abstract: This article explores the role of the state in the production and negotiation of difference in a “world on the move”. In particular, it is concerned with the consequences of the divide between the “legal”and “illegal”migrant, at both a material and symbolic level, for how Brazilians live and structure their lives in London. Although political discourse about immigration often works to homogenize“the migrant”as a symbolic figure in opposition to “the citizen”, immigration policies also work to split migrants into different types of actors for reasons of entry (student, family reunion, refugees, temporary worker, highly skilled and business migrant), or for legal status (“legal”, “illegal”). These administrative migration categories are often taken as natural, neutral and descriptive, reflecting person’s identity (“the illegal”), rather than referencing and shaping particular types of relation. Moreover, categories employed by the state for its own administrative purposes are volatile and do not map onto the realities of the lives of people who move. Nevertheless, these categories affecthow people can live and plan their lives, what rights they have, how they imagine themselves and what forms of socialities they construct in their daily lives. The article draws on empirical research that combines an 18-month ethnography in places of leisure with 33 in-depth interviews with Brazilians in London.